* João Pedro Wapler
O humor é um gênero
complicado. Soar engraçado, irônico ou sarcástico exige do autor um dom e uma
técnica sutilmente apurada. Fazer o outro rir é uma das artes mais difíceis
para um artista. No caso da literatura, o humor torna-se ainda mais delicado de
se lidar, pois temos apenas a palavra como plataforma de criação. Especificamente a prosa possibilita ao autor
criar frases, parágrafos e capítulos, desenvolvendo seu raciocínio criativo de
uma maneira que, aparentemente, alguma pitada humorística tenha menos chance de
dar errada. Já na poesia, dispomos de versos e estrofes, normalmente curtos,
assim é imperativo para o autor uma maior sagacidade: não temos tantas linhas assim
para remeter ao riso.
Dentro dessa vertente da seara literária, a FestiPoa gerou
um encontro atraente no último sábado. No evento intitulado Poesia: humor: liberdade: linguagem, o
poeta Diego Petrarca mediou um bate papo na Casa de Teatro de Porto Alegre
entre os também poetas Diego Grando e Gabriel Pardal. A conversa girou em torno
da arte de se fazer versos com liberdade, inteligência e humor, três
ingredientes de difícil conjugação quando tratamos de literatura versificada.
Grando é gaúcho e recentemente lançou seu segundo livros
de poemas, Sétima do Singular. Pardal
é baiano e também lançou há pouco o título de poesia Carnavália. Os dois poetas, cada um à sua maneira, sabe lidar muito
bem com o riso em suas criações. O primeiro de maneira mais implícita, através
de uma fina ironia, já o segundo, despudoramente, através de uma linguagem explicitamente
cômica.
Em Sétima do
Singular, vemos um apuro técnico que remete a um dos ídolos do autor:
Apollinaire. Os poemas são estruturalmente muito bem delineados. Grando também
busca em outro mestre, Carlos Drummond de Andrade, uma bagagem discursiva invejável,
incrementando sua técnica com um texto imageticamente belo.
Carnavália
segue um caminho diametralmente oposto, apostando na desconstrução estrutural e
num discurso mais direto e entrecortado, onde encontramos ares de Paulo
Leminski e de alguns autores da canção popular brasileira, por exemplo.
Na conversa descontraída guiada com esperteza por
Petrarca, notamos o tom do texto de cada poeta em suas próprias falas. Pardal abria
pouco a boca e quando dizia algo arrancava risos da plateia. Diego usou bastante
o microfone, desenvolvendo raciocínios irônicos que também prenderam a atenção
de quem compareceu ao local. Duas espécies de humor diferentes: o primeiro mais
elíptico e o segundo mais argumentativo.
O legal de tudo isso é ver que a literatura não deve ser
levada tão a sério, mas com mais leveza, para não ficar, enfim, chata.
Literatura não precisa começar com letra maiúscula para ser respeitada. Ele, antes
de uma disciplina escolar, deve fazer parte da língua do povo. Os dois poetas
de dois lugares completamente distintos do país, provaram que uma pitada de
humor à moda de cada um, só aproxima mais as pessoas do universo das letras e
dos versos.
* Poeta, ator e jornalista.