1. Como foi voltar para Porto Alegre depois dos anos na
França? Alguma coisa te surpreendeu?
É uma sensação dividida, de contentamento por voltar pra
perto dos amigos, de um profundo vazio por deixar uma cidade fantástica como Paris,
no momento em que, eu arriscaria dizer, eu já me sentia em casa. Talvez eu
tenha ficado surpreso com o fato de tudo continuar igual, enfim, ingenuidade
minha: vivi minha vida toda aqui, e de repente o cara sai por dois anos e se
acha no direito de esperar que tudo esteja diferente, irreconhecível. Mas tá
tudo ali, desde sempre, no dna, e a gente não deixa de reconhecer as esquinas
porque uma construtura transformou uma porção de casas em cubos envidraçados. Uma
fotografia na parede, que seja, sempre dói.
2. Estamos longe demais das capitais?
Não sei. Do ponto de vista geográfico, prático, pode ser que
sim, é o que dizem. Do ponto de vista da nossa construção identitária, do nosso
discurso, sem dúvida, no sentido de não sermos muito bem brasileiros, nem
plenamente gaúchos (não, ao menos, campeiros). Adoramos detestar nossas
ambiguidades.
3. Você vai participar da mesa “Poesia: humor: liberdade:
linguagem”. Vamos adiantar uma pergunta: um velho mestre dizia que não é com a
ira, mas com o riso que se mata. Você está interessado em matar alguém ou
alguma coisa?
Não acho que eu seja risonho o suficiente para ser
considerado um assassino em potencial.
4. O que podemos esperar de “Sétima do Singular”?
Um livro mais maduro, no contexto da minha trajetória, mais
seguro quanto às coisas a (não) dizer e ao jeito de dizê-las. Um livro de
poemas pensado como livro (para o bem e para o mal), e não como um agrupamento
de poemas que acabam por constituir um livro. Também é um livro mais amplo,
construído a partir de um jogo de máscaras mais complexo em relação ao que eu
havia feito até então.
5. Poesia para quê?
O Drummond tem um verso que eu acho belíssimo, em "A
flor e a náusea": "Ração diária de erro, distribuída em casa".
Confira o trabalho de Diego Grando clicando aqui!