Ontem, no centro de Porto Alegre, em torno de 60
pessoas se reuniram para acompanhar e participar de debate sobre a produção literária
brasileira. A mesa aconteceu dentro da programação da 5ª FestiPoa Literária, e levou
a platéia e os debatedores a andarem por temas como a consolidação das editoras em
grandes curadoras da leitura e os riscos de crítica e academia apostarem no que
há novo em literatura.
O escritor e poeta Paulo Scott foi o mediador do debate,
provocando e libertando os debatedores a darem o melhor de si para a público. A
crítica Beatriz Resende e o editor Ítalo Moriconi trataram dos temas com inteligência
e paixão. No fim das contas, ambos pareciam estar em casa: Ítalo revelou que o
primeiro autor que lhe conquistou foi Érico Veríssimo, enquanto Beatriz
demonstrava muita intimidade com a literatura produzida atualmente no estado – “a
verdadeira nova ficção em papel está sendo feita aqui”, disse ela.
Os riscos de apostar no novo
Beatriz Resende explicou que sua coragem em apostar
em novos talentos vem da liberdade com que trata a crítica literária,
desvencilhada do seu ofício acadêmico. “Sempre estive ligada à teoria na
universidade, e não propriamente à literatura, então me sentia mais livre para
escrever na imprensa”, explicou ela.
Ítalo Moriconi apontou motivos para as universidades terem
dificuldade de apostar no novo: “assumir curadoria é assumir risco, não há como
escapar disso, e a academia tem o problema de querer estar segura, dar as mesmas
aulas, reproduzir o mesmo conhecimento – não está preparada para enfrentar um
movimento cultural”. O editor ainda completou com seu exemplo pessoal: “quando lancei uma
antologia de poemas, enfrentei no mercado a fogueira das vaidades, com respeito a
poetas que ficaram de fora; já na universidade, o que causou polêmica foi o próprio
fato de topar fazer antologia para uma grande editora”.
As grandes editoras como curadoras
“Se você comparar o grau de percepção, parece que há mais gente
nas editoras a entender e amar a literatura do que na academia”, Ítalo Moriconi
observou e foi apoiado pelos outros integrantes na mesa. Por outro lado, ele não
deixa de apontar os riscos que o mercado editorial oferece ao se tornar o
grande curador da atualidade: “há um jogo de sempre inventar o novo, não há tempo para
releitura, para a decantação crítica, para a reedição. A geração dos 1970 parece ter sido abandonada nesse
processo”.
Paulo Scott também chamou a atenção para o fato do mercado editorial e
a força do marketing das grandes editoras pautarem os críticos e jornalistas,
havendo pouco espaço dentro das redações para o trabalho mais extenuante de
buscar fora dos releases o que vale a
pena ser lido pelo público.